domingo, 8 de abril de 2007

VISÃO ECOLÓGICA - INTEGRANTE DO SISTEMISMO ECOLÓGICO CIBERNÉTICO

A Visão Ecológica.percepção da realidade, sob a ótica, sob o prisma, sob a perspectiva da Ecologia.

Além da utilização enfoque sistêmico, proposto no capítulo anterior, preconizamos a abordagem simultânea dos sistemas, sob prisma da ecologia, resultando daí, uma dupla perspectiva: Sistêmica e Ecológica.

Reciprocamente, advogamos o emprego de uma abordagem do ambiente, também, sob uma perspectiva sistêmica, com base nos cânones da Teoria Geral dos Sistemas (Sistemismo), além de sua natural focalização sob o prisma eminentemente ecológico, surgindo, então, uma Ecologia Sistêmica.

O estudo sistêmico e ecológico, tanto do sistema como do ambiente que o envolve, corresponde ao segundo degrau do Sistemismo Ecológico Cibernético, objeto precípuo deste livro.

Esta estratégia decorre a utilização de um sistema discursivo ecológico na visualização dos sistemas e, vice-versa, a aplicação de uma linguagem sistêmica na descrição do ambiente dos sistemas, resultando no enriquecimento, tanto do estudo do sistema, como do respectivo ambiente.

O estudo de um determinado sistema, sem considerar o estudo do ambiente que o envolve se tornaria um estudo insuficiente, fragmentário ou reducionista, tendo em vista que as condições ambientais que envolvem o sistema o afetam de modo significativo.

Na verdade, tanto o ambiente afeta o sistema como este é afetado por aquele.

O sistema e o respectivo ambiente"vivem", permanentemente, em interação recíproca.

A visão ecológica, sobretudo quando se percebe a assimila e percebe a Ecologia em sua dimensão atual, como uma ciência de topo, permite uma abordagem de natureza abrangente, à semelhança ao enfoque sistêmico, constituindo referencial obrigatório para o estudo das relações dos sistemas com o ambiente que os envolve e, imprescindível, quando se tratar do sistema humano e de seus metassistemas (família, comunidade, sociedade).


Os sistemas abertos estabelecem constantes relações (estruturais e funcionais) entre todos os seus elementos componentes (subsistemas), e como tal, o ambiente comporta ser abordado, também, em sua dimensão sistêmica, mediante o enfoque sistêmico, concomitantemente, com a sua óbvia focalização segundo os cânones da ecologia - através da visão ecológica.

A importância e a necessidade de utilização de uma perspectiva ecológica na metodologia científica decorre do fato de que todos os sistemas abertos estão submetidos às influência ambientais, em face das suas contínuas e permanentes relações com seu entorno e, conseqüentemente, com os demais sistemas situados nos seus arredores, influenciando-se reciprocamente.

A principal vantagem de se introduzir a visão ecológica na metodologia é a aquisição, por esta, do modelo dos organismos vivos e dos ecossistemas naturais, os quais são sistemas auto-organizadores, auto-reprodutores e auto-reajustáveis, transferindo estes atributos ao quadro de referência resultante, além de lhe dotar de características orgânicas, as quais lhe permite se contrapor às metodologia de cunho mecanicista.

Apesar dos conflitos entre os seres vivos e o ambiente, das competições intra e interespécies, há um notável equilíbrio ecológico, pois os ecossistemas possuem a capacidade de auto-organização e auto-regulação, cujos mecanismos de "feedback" inclui o funcionamento da cadeia alimentar, dos processos reprodutivos, competitivos, das associações harmônicas, como as simbióticas e, desarmônicas (parasitismo e predatismo), constantes entre os seres vivos.

O enfoque sistêmico, fundamentado na Teoria Geral dos Sistemas (Sistemismo), por si mesmo e, por definição, além de incluir o estudo do sistema considerado, já abrangeria o estudo do ambiente que o envolve, os quais se afetam mutuamente.

Desafortunadamente, tal estratégia jaz, apenas, implícita na metodologia sistêmica, a qual não não explicita a necessidade se estender os estudos até alcançar, necessariamente, o exame do ambiente que envolve o sistema considerado.

Em razão do fato de não se encontrar suficientemente estipulada, na abordagem sistêmica, tal lacuna é passível de induzir à desconsideração dos reflexos do ambiente sobre o sistema e, vice-versa, conseqüentemente, vários estudos, designados como sistêmicos, se apresentam, geralmente, eivados de reducionismo.

O relacionamento estreito, entre o sistema e o ambiente que resulta em influências de sobre o outro e, vice-versa, ocorre através de um conjunto de trocas que se processam entre um e outro, afetando-se mutuamente.

Destarte, todos os processos efetivados no interior de um sistema, como acontece, com o próprio organismo humano, são decorrentes de relações de intercâmbios intra-sistêmicos ou inter subsistemas e, desse conjunto, com o seu exterior - ambiente, entorno ou ecossistema - relações estas que podem ser traduzidas como processos de trocas, contituídos e sintetizados ou englobados pela tríade: “matéria, energia e informações”.

Em virtude das informações serem, sempre, mediadas por matéria e energia e, assim, contidas em ambas, estas trocas são, por alguns autores, simplificadas, sintetizadas e traduzidas mediante dois termos: “matéria e energia” .

Por outro lado, em razão da unidade da matéria e da energia, seria possível, ainda, se reduzir a expressão a um ou a outro desses dois termos, simplesmente, se expressando como intercâmbio de “matéria” ou intercâmbio de “energia”, entre o sistema e o ambiente ou, entre dois sistemas.

Entretanto, preferimos utilizar, sempre a expressão “matéria, energia e informações”, uma vez que, cada uma delas tem conotação específica, o que melhor atende a razões didáticas, à lógica, aos propósitos e a finalidades deste trabalho.

Para contemplar, simultaneamente, o estudo do sistema e do respectivo ambiente, integrando-os, julgamos necessária a utilização de um quadro de referência no qual esteja explicita a exigência de uma abordagem, conjunta e simultânea, tanto do sistema como do ambiente circundante, cujas especificidades se coadunem com as peculiaridades de um e outro, o que pode ser efetivado através da adoção de um a metodologia de caráter mais abarcante que o enfoque sistêmico, considerado de per si.

Destarte, enfatiza-se, não apenas, as inter-relações ocorrentes no interior do sistema (intra-sistêmicas ou inter subsistemas) e, também, os relacionamentos, que se processam entre os sistemas e seus arredores (ambiente do sistema), ambos manifestos através de um conjunto de trocas.

Ao considerar as influências exercidas pelo sistema sobre o ambiente e, reciprocamente, do sistema sobre o respectivo ambiente (o primeiro afeta o segundo e vice-versa), os autores resolveram elaborar um instrumento, capaz de focalizar ambos, simultaneamente,

Para concretizar tal propósito, se processou o acoplamento dos atributos da Teoria Geral dos Sistemas com as virtuosidades da Ecologia, ou seja, efetuando-se a junção do enfoque sistêmico com a visão ecológica, designando esta dupla perspectiva como abordagem sistêmica ecológica ou Sistemismo Ecológico.

Esta abordagem “anfíbia” permite a focalização, tanto do sistema como do ambiente, mediante uma mesma metodologia, possibilitando a unidade e abrangência do estudo que se realiza mediante o quadro de referência proposto.

Portanto, além da óbvia utilização do enfoque sistêmico no estudo dos sistemas, conjuntamente com uma abordagem ecológica, resulta na visão sistêmico-ecológica ou Sistemismo Ecológico.

Reciprocamente, a abordagem do ambiente, mediante a natural e indispensável focalização sob o prisma eminentemente ecológico - perspectiva ecológica, - segundo os postulados da Ecologia, de maneira simultânea à utilização do enfoque sistêmico, com base nos cânones da Teoria Geral dos Sistemas (Sistemismo), produz uma Ecologia Sistêmica.

Em decorrência desta estratégia se torna evidente a aplicação do sistema discursivo ecológico na visualização dos sistemas e, vice-versa, a aplicação de uma linguagem sistêmica na descrição do ambiente dos sistemas, enriquecendo tanto o estudo dos sistemas como os do ambiente.

“Há complementaridades que se estabelecem partindo das associações, simbioses e parasitismo, mas também entre comedor e comido, entre predador e presa, há hierarquias que se estabelecem entre as espécies; assim, da mesma forma que nas associações humanas em que não só as hierarquias, mas também os conflitos e as solidariedades se encontram entre os fundamentos do sistema organizado, a competição (matching) e o ajuste (fitting) são alguns dos fundamentos complexos do ecossistema.
Através de todas estas interações, constituem-se os ciclos fundamentais: da planta ao herbívoro e ao carnívoro, do plancto ao peixe e ao pássaro: um ciclo gigantesco em que a energia solar produz o oxigênio, absorve o gás carbônico e une, por meio de mil retículos, o conjunto de seres do nicho ao planeta; nesse sentido o ecossistema é, por certo, uma totalidade auto-organizada. Assim, não era um delírio romântico considerar a Natureza um organismo global, um ser matricial, desde que não se esqueça de que essa mãe é criada por seus próprios filhos e de que ela também é madrasta, utilizando também a destruição e a morte como meio de regulação. 2”

A destruição e a morte constituem mecanismos de “feedback”, ou cibernéticos, de regulação e controle da natureza, buscando permanentemente o equilíbrio ecológico, tudo a serviço da biodiversidade.

Qualquer sistema está inserido em um ambiente, com o qual se relaciona (o ser e o ecossistema).

Os sistemas só podem existir no ambiente. Há apenas uma exceção: o único sistema sem ambiente é o próprio universo, pois não podemos conceber algo em seu entorno, constituindo, pois, um sistema fechado.

Um sistema de qualquer natureza, adicionado de seu ambiente, corresponde à totalidade do universo.

“A ecologia ou, antes, a ecossistemologia (Wildem, 1972), é uma ciência que nasce, mas que já constitui uma contribuição primordial para a teoria de auto-organização do vivo e, no que diz respeito à antropologia, reabilita a noção de Natureza e, nela, enraíza o homem। A natureza já não é desordem, passividade, meio amorfo: é sim, uma totalidade complexa. O homem não é uma entidade estanque em relação de autonomia/dependência organizadora no seio do ecossistema. 3”

A colocação supra, da natureza como uma totalidade complexa, sanciona a nossa proposta de uma Ecologia Sistêmica.

Em razão de que os intercâmbios entre o sistema e o ambiente afetam a ambos mutuamente, seria considerado reducionista o estudo de qualquer sistema que não alcançasse, também, o seu ambiente.

Por este motivo, propomos que, na abordagem de quaisquer sistemas, devamos acrescentar, sempre, o exame de sua dimensão ambiental (ecológica), mediante a aplicação dos conceitos da Ecologia, considerando-se esta em seu sentido mais amplo, abrangente e irrestrito, portanto, focalizando o próprio ambiente como um sistema, ou seja, estudado, também, mediante o enfoque sistêmico, o que caracterizaria a existência de uma Ecologia Sistêmica.

Segundo Pierre Aguesse,4” a par da sua concepção clássica, a ecologia deve "incluir o Homo Sapiens e suas atividades", pois "a ecologia não é mais apenas a ciência do naturalista, de vez que disciplinas tão variadas como o direito, a economia, a sociologia, etc। devem estar incluídas no seu campo de investigação", resultando em verdadeira ciência o homem e que, para Bougley,5” a ecologia "antes era disciplina um tanto difusa e incoordenada que lutava para abarcar estudos como a fisiologia, a genética e a evolução".

Nesta visão podemos incluir as atividades laborais como relações ecológicas (um aspecto da ecologia humana), pois se trata de uma ação do ser humano sobre o ambiente e/ou sobre outros sistemas situados no ambiente, inclusive os outros sistemas humanos, afetando-se reciprocamente.

Estas relações podem ser traduzidas como trocas de matéria, energia ou informações entre o trabalhador e o ambiente, ou mais apropriadamente como uma transferência de entropia negativa (negentropia) do corpo humano para o ambiente de trabalho e/ou para o objeto trabalhado.

“El trabajo ocasiona una transferencia de la entropía negativa del organismo humano hacia el objeto que este elabora con dicho trabajo। La desintegración que el trabajo ocasiona en el ser humano se traduce por la integración de un objeto. A su vez, el trabajo del hombre también ocasiona una desintegración de la naturaleza. Sin embargo, con este trabajo que lo desintegra y entropiza, el hombre integra y disminuye la entropía del sistema-sociedad. Se trata de un concepto elemental e fundamental que no hay que olvidar. El trabajo es tan solo una transferencia de entropía negativa. 6”

A transferência de entropia negativa (negentropia) do próprio corpo do trabalhador para o objeto ou sistema trabalhado, torna estes menos entrópicos, enquanto o trabalhador fica mais entrópico, “entropiado” ou estropiado.

El hombre primitivo fue el último ser humano que trabajó para sí mismo y para su familia। La familia integraba el sistema. El adulto aumentaba su entropía proveyendo objetos de consumo por medio de la cacería y el curtido de pieles o la elaboración de objetos para caza, con el fin de que sus críos pudieran crecer, desarrollarse, diferenciarse y disminuir su entropía. 7”

O salário percebido pelo trabalhador corresponderia a uma porção de negentropia (entropia negativa), paga pelo empregador ao trabalhador em contra-partida à entropia, produzida no corpo do trabalhador em decorrência do trabalho realizado.

“En la actualidad, solo una parte del aumento de la entropía negativa, producto del trabajo de los seres humanos es utilizado por su familia ya que el resto es aprovechado por el sistema-sociedad para integrarse como un todo. Lo que sucede es que dentro del sistema-sociedad siempre han existido grupos de seres humanos que aprovechan, en proporción mucho mayor, el aumento de la entropía de las mayorías en beneficio de su propia integridad para preocuparse una menor entropía. 8”

No ato da execução de um trabalho, ocorre um aumento de entropia do organismo humano, face à transferência de negentropia ou entropia negativa do corpo do trabalhador para o objeto elaborado, o qual tem sua entropia diminuída e a sua negentropia aumentada.

"Durante el proceso de trabajo aumenta el caos y el desorden en el sistema del organismo humano (al perder energía) y aumenta el orden y la diferenciación del sistema que recibe dicho trabajo. El hombre, al fabricar un bien, sea una maquina o un objeto, crea un sistema integrado a expensas de la desintegración del propio sistema. 9”

Uma parte do salário que o trabalhador recebe é tão somente para compensar a entropia produzida em seu próprio corpo pela transferência de energia (ou negentropia) deste para o objeto de trabalho, ficando “elas por elas”. Por isto, o trabalhador necessita como retribuição pelo seu trabalho, algo mais que a simples reposição da energia despendida, inclusive para atendimento de outras necessidades, como o sustento de sua família.

"El ser humano al trabajar pone en peligro su poca probabilidad como sistema y su desequilibrio y inestabilidad en relación al medio ambiente. Se trata de un punto de vista más de la enajenación de ser humano: el de la transferencia de entropía negativa. La actividad económica de ser humano es una transferencia de entropía negativa. Este enajena su orden estructural y su integridad energética, para integrar bienes y proporcionar servicios. Al mantenerse integrado a su familia y a su sociedad y al incorporar a ellas bienes de todos os tipos, el hombre lo paga con el precio de su entropía negativa10”.

Acima está referido a um processo de alienação do trabalhador em relação ao produto do seu trabalho, o qual cede sua própria integridade estrutural e energética, que passa a integrar os bens ou serviços por ele produzidos, para os quais transfere a negentropia - ou entropia negativa - do seu próprio corpo, tornando-se mais entrópico.
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Desejável seria que houvesse um conjunto de ações solidárias entre a sociedade (governo), empresário e assalariado, constituindo-se numa verdadeira situação de simbiose tripartite, possibilitando a construção de uma ordem social democrática, participativa, igualitária, fraterna, em que prevaleça ordem, justiça, liberdade, adequada distribuição de renda,.

Estas condições seriam capazes de garantir adequadas condições de educação, trabalho, transporte, segurança, moradia, saneamento básico, nutrição, saúde, lazer, bem estar, tudo com reflexos na qualidade de vida, enfim, no sentido da consecução de um adequado nível de equilíbrio, de homeostasia social.

Hoje em dia, um processo de globalização crescente está curso, em escala planetária, nos diversos setores da sociedade, afetando todos os seres humanos, indistintamente, principalmente os trabalhadores e os segmentos mais discriminados da sociedade, em virtude da maior dificuldade para adaptação às condições de mudança.

A globalização estabelece um sistema de “vasos comunicantes” entre todos os processos sociais, sobretudo de natureza cultural, política e econômica. Este fato vem reforçar a necessidade e está, mesmo, a impor uma mudança de paradigma e uma nova abordagem da realidade.

A globalização é conseqüência lógica da evolução e rapidez dos meios de transporte, do desenvolvimento dos processos de comunicação, da transmissão instantânea das informações e, da informatização de variados setores da sociedade, tudo em nível planetário.

Este fenômeno avança a cada dia, vindo para ficar, para permanecer, por isso, teremos de assimilar a globalização, com as suas virtudes e seus efeitos colaterais, queiramos ou não, já que ela constitui uma realidade, quer seja ou não de nosso agrado.

Não adianta permanecermos à maneira de um cachorro que late diante da lua ou tomar atitude de avestruz, enterrando a cabeça na areia, por ocasião de ventania.

Em face deste processo globalizante, o ambiente ou ecossistema em que o homem vive tem dimensão planetária: a aldeia global referida por McLuhan11.

Em relação aos efeitos danosos da era da globalização, um dos antídotos é o conhecimento e a utilização do Sistemismo e das metodologias dele decorrentes, o que se torna, cada dia, mais necessário, a fim de melhor entender esse processo globalizante e, conseqüentemente, lutar contra suas conseqüências nefastas e capacitando-nos para, ao mesmo tempo, aproveitarmos as suas potencialidades benéficas, entre as quais se destaca os projeto de inclusão digital que permitirá a universalização do acesso às informações pelos setores mais oprimidos da sociedade, como instrumento de ascensão social.

Ousamos afirmar que a Teoria Geral dos Sistemas (Sistemismo) pode ser considerada como a própria teoria da globalização e que, desconhece-la é ficar incapacitado para interpretar e aceitar a inexorabilidade desse processo e para atuar em função da possibilidade de evitar seus efeitos danosos, com reflexos no sistema social, como um todo, no futuro das empresas e, na vida de cada ser humano, impedindo, portanto, de usufruir as suas potencialidades benéficas.
O Sistemismo, estabelecido há meio século, foi capaz de prever o surgimento desta nova realidade e pretendeu representar uma etapa decisiva na construção e evolução de um referencial capaz de corresponder às necessidades dos tempos modernos.

Por outro lado, o Sistemismo, reforçado pela contribuição da Cibernética e da Ecologia, enfatiza o equilíbrio dos sistemas, entre os quais o do sistema humano e o sistema ambiental.

Ao longo do processo VIDA, o estado de equilíbrio, a homeostasia, a saúde seria uma condição natural do ser humano, enquanto que o fenômeno doença representaria, simplesmente, uma intercorrência, em determinados instantes da sua trajetória vital, resultante dos efeitos concomitantes de suas potencialidades genéticas e das inadequadas relações com o ambiente, que podem ser traduzidas por impróprias relações de intercâmbio de matéria, energia e informações entre o sistema humano e o ambiente em que vive.

Estas reflexões são necessárias, tanto mais, quando as condições ambientais se deterioram progressivamente, mercê das ações deletérias do homem sobre o ambiente, quer em função da voracidade econômica que provoca a destruição da natureza e minimiza, quase sempre, os dispêndios com medidas de sua conservação e com atividades de saneamento básico, além da ausência ou insuficiência de outras providências profiláticas e de ações controladoras da poluição, quer quanto à degradação do ecossistema, resultante da insuficiência, ou mesmo, da ausência de uma consciência ecológica, individual e coletiva.

O Sistemismo preconiza uma visão ou abordagem sistêmica do homem (sistema humano)। Daí, apresentarmos, a seguir, mais um Princípio do Sistemismo Ecológico Cibernético, o qual ficará mais bem esclarecido após a leitura do capítulo VIII - Dialética dos Sistemas Vivos, - face às características dialéticas do fenômeno vida e, portanto, do próprio homem, como expressa o seguinte:

1 - Princípio do Homem Sistêmico-Cibernético

O homem é um sistema biológico (aberto e negentrópico), cuja dimensão espacial é o corpo e, temporal - a longevidade e a historicidade -, constituído por um conjunto integrado e inter-relacionado de subsistemas, programado geneticamente para efetuar trocas e metabolização de matéria, energia e informações (intra-sistêmicas ou inter subsistemas e, do conjunto inteiro, com o ambiente), sendo dotado de mecanismos homeostáticos ou cibernéticos de auto-organização, auto-regulação, auto crescimento, auto desenvolvimento e auto reprodução, tendo seu processo evolutivo produzido a consciência e a linguagem; através de ações negentrópicas e utilização de sistemas signos, aprende, projeta, produz, armazena e transmite cultura (saber, técnica e arte), convive socialmente, idealiza, elabora e utiliza instrumentos (extensões do próprio corpo), transforma a realidade e planeja ações futuras e, sua teleologia é a manutenção da saúde, o prolongamento da vida e a perpetuação da espécie, tudo em franca e contínua oposição às forças entrópicas.

Com o propósito de síntese dos Princípios do Sistemismo Ecológico Cibernético, o Princípio do Homem Sistêmico será reencontrado no Capítulo X, juntamente com outros Princípios.

Com fundamento nas idéias antes expostas, apresentamos três dentre os Princípios do Sistemismo Ecológico Cibernético, objeto deste livro:

2 - Princípio da Universalidade Ecológica

A abordagem de quaisquer sistemas - físicos, biológicos, tecnológicos e sociais - deverá, necessariamente, abranger a focalização de seus metassistemas e do ambiente em que se acham inseridos, incluindo as relações de trocas de matéria, energia e informações entre o sistema e seus metassistemas e, de ambos com o ambiente.

O homem, ao transformar o ambiente, mudou, também, de maneira acentuada e drasticamente, o espectro nosológico.

No passado, as doenças dependiam, além dos fatores genéticos, predominantemente, de condições preexistentes na natureza (ambientes físico e biológico), que ainda condicionam variadas patologias, características das regiões subdesenvolvidas, enquanto que presentemente, a etiologia das doenças está grandemente relacionada com fatores determinantes e condicionantes sociais (ambientes tecnológico e social), mais acentuadas nas áreas desenvolvidas, coexistindo, entretanto, ambas as condições, nas regiões em desenvolvimento.

Poder-se-ia afirmar, que dois grandes flagelos assolam a humanidade inteira, de um lado a desnutrição, a fome crônica, de outro a “hipernutrição” (obesidade) - esta, geralmente, uma desnutrição qualitativa - ambas, presentemente, de caráter endêmico.

Na verdade, a fome e a obesidade constituem duas enormes pandemias que atingem quase todos os habitantes do planeta, só excluindo uma pequena faixa intermediária (“bord-line”) da população, passível de ser considerada em estado de higidez.

Ainda, com relação ao ambiente hostil, o ser vivente pode se comportar de uma ou mais das seguintes maneiras:

· Adapta-se ao ambiente;

· Transforma o ambiente;

· Muda de ambiente ou

· Sucumbe.

A introdução da visão ecológica neste trabalho decorre da importância da ação do ambiente sobre todos os seres vivos e, sobretudo, no que se refere ao homem e à sociedade.

Não se trata de enfatizar a ecologia, em detrimento do ser humano, como o faz certo ecologismo vigente, praticado por alguns ambientalistas, que priorizam o ambiente, em relação ao homem.

“A nova consciência ecológica deve mudar a idéia de natureza, tanto nas ciências biológicas (para as quais a natureza não passava de selecionadora dos sistemas vivos e não era ecossistema integrador desses sistemas) quanto nas ciências humanas (em que a natureza era amorfa e desordenada). Outra coisa que deve mudar é a concepção da relação ecológica entre um ser vivo e o seu meio ambiente. Segundo o antigo biologismo o ser vivo evoluía no seio da natureza, limitando-se extrair dele energia e matéria, dele dependia unicamente no que se referia a alimentação e suas necessidades físicas. É a Schrödinger, um dos pioneiros da revolução biológica, que devemos a idéia capital de que o ser vivo não se alimenta só de energia, mas também de entropia negativa. (Schrödinger, 1945), isto é de organização complexa e informação. Esta proposição foi desenvolvida diversamente e pode-se afirmar que o ecossistema é co-organizador e co-programador do sistema vivo que se encontra integrado nele (Morin, 1972). Esta proposição apresenta uma conseqüência teórica muito importante: a relação ecossistêmica não é uma relação entre duas entidades estanques; trata-se de uma relação integrativa entre dois sistemas abertos em que cada um é parte do outro, constituindo um todo. 14”.

Há uma interação entre os sistemas vivos e o sistema ambiental, constituindo um todo em que ambos se afetam mutuamente, correspondendo a um processo integrativo, em que um é parte do outro, formando, na realidade, um novo sistema de maior amplitude, de natureza mista: o sistema vivo/ecossistema.

“Enquanto a Ecologia modifica a idéia de natureza, a etologia modifica a idéia de animal। Até então, o comportamento animal parecia ora comandado por reações automáticas ou reflexos, ora por impulsos automáticos ou “instintos”, ao mesmo tempo cego e extralúcidos, cuja função era satisfazer as necessidades de proteção, de sobrevivência e de reprodução do organismo. Ora, as primeiras descobertas etológicas indicam que o comportamento animal é, ao mesmo tempo organizado e organizador. Primeiramente surgiram as idéias de organização e território. Os animais comunicam-se, isto é, exprimem de um modo que é recebido como uma mensagem e interpretam comportamentos específicos como mensagens (Sebeok,1968). 15”

A influência constante e permanente do ambiente sobre o sistema humano e seu comportamento, é expressa pelo Sistemismo Ecológico Cibernético, como se vê:

3 - Princípio Genético-Ambiental

“O ser humano é, em cada instante de sua trajetória existencial, a resultante dos efeitos de dois componentes: - um genético, representado pelo conteúdo informacional (instruções codificadas em linguagem cromossômica), correspondendo a um projeto inscrito no código genético e, - outro ambiental, decorrente das conseqüências cumulativas (historicidade dos efeitos, acrescida dos resultados, presentes ou instantâneos) e, do vir-a-ser, oriundos das ações das pressões ambientais sobre o patrimônio genético, que pode ser expresso como o somatório cumulativo dos efeitos das trocas de matéria, energia e informações entre o sistema humano e o ambiente que aconteceram no decurso de todo o processo vida”, influenciando seus projetos e seu devir,

Corolários:

- O ser humano é, em determinado momento da trajetória do seu processo vital, a resultante dos efeitos da sua programação genética, que é expressa em linguagem cromossômica e, da historicidade e da ação instantânea das trocas de matéria, energia e informações intra-sistêmicas e, do organismo, como um todo, com o ambiente, incluindo também o seu devir.

- O homem é, em cada instante considerado, o seu passado, seu presente e o seu futuro.

- O presente, o passado e, o vir-a-ser do ser humano está na dependência das informações armazenadas no seu código genético e dos efeitos cumulativos (históricos, instantâneos e futuros), decorrentes das ações de trocas de matéria, energia e informações entre o referido ser e o ambiente.

Este Princípio poderia ser designado, também como Princípio Genético-Histórico/Instantâneo.

3 - Princípio da Ecologia Sistêmica

No estudo do ambiente (ecossistema) de qualquer sistema, além do próprio enfoque ecológico, deverão ser focalizados, sempre, seus aspectos de abrangência, de totalidade, de integralidade e de relacionamento entre as partes constituintes, isto é, abordado, também, através de uma perspectiva sistêmica, segundo os cânones da Teoria Geral dos Sistemas.

Este princípio representa o acoplamento da Ecologia com o Sistemismo (Ecossistemismo) ou Sistemismo Ecológico. É o estudo dos ambientes sob o enfoque sistêmico.

O Sistemismo Ecológico, por sua vez, adicionado da Cibernética constitui o Sistemismo Ecológico Cibernético.

A partir da premissa de que o Universo é constituído por quatro linhas de sistemas, segundo a Teoria Geral dos Sistemas12, podemos afirmar que o ecossistema, também é formado por um conjunto de elementos que constituem os seus subsistemas: físico, biológico, tecnológico e social.

Para os propósitos deste livro, abstraído o sistema que esteja sendo analisado, tudo que o cerca, todo o seu entorno (inclusive os seres humanos nele contidos), constitui o seu ambiente ou ecossistema.

Como todos os componentes do ecossistema.são elementos de uma das quatro linhas de sistemas, como postula a referida teoria e que sintetizam tudo que existe no Universo, podemos designá-los como subsistemas (componentes) do ecossistema.

Portanto, o ecossistema global é constituído por um subsistema físico, um subsistema biológico, um subsistema tecnológico e um subsistema social.

Se, por um lado, nenhum sistema aberto pode ser estudado isoladamente do seu ecossistema, com o qual efetua trocas matéria, energia e informações, ou seja, à luz da Ecologia (visão ecológica), por outro lado, todos os ecossistemas devem ser enfocados sob a perspectiva sistêmica, quer dizer, em sua abrangência e integralidade, com ênfase na inter-relação de seus elementos componentes, constituindo esta abordagem conjunta, a Visão Sistêmico-Ecológica, a qual está consubstanciada no Sistemismo Ecológico Cibernético e corresponde à proposta fundamental deste trabalho, objeto do outro blog, com este título.

Ao encerrarmos este capítulo, gostaríamos de reafirmar o grande poder de síntese da Teoria Geral dos Sistemas16, o que se torna evidente, ao permitir relacionar tudo que existe no universo em, apenas, quatro linhas de sistemas:

- um sistema físico que vai do átomo ao Universo físico;

- um sistema biológico - desde o vírus até ao homem;

- um sistema tecnológico - iniciando com a flecha (ou qualquer outro instrumento, mais primitivo ainda, para chegar aos engenhos espaciais);

- um sistema social - a partir da família até a sociedade planetária.

Com base nesta síntese, conclui-se que, dentro de uma perspectiva sistêmica da Ecologia, podemos analisar o ambiente (também um sistema) que envolve o objeto do estudo ou qualquer outro sistema considerado, como integrado por elementos de cada uma destas linhas de sistema, ou seja, concebendo o ambiente, em sua totalidade, integralidade e abrangência, como constituído por elementos representativos das quatro linhas de sistemas referidas (ambiente físico, biológico, tecnológico e social), o que corresponde ao enfoque sistêmico da Ecologia, permitindo caracterizar, assim, uma Ecologia Sistêmica.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- MORIN, E. - O इंigma do Homem - 2ª ed. - Trad. Fernando de Castro Ferro - Rio de Janeiro - Zahar एडitores, 1979. p. 29/30.

2- Ibidem. p. 30.

3- Ibidem, p. 31.

4- AGUESSE, p. - Chaves da Ecologia - RJ - Ed. Civilização Brasileira, 1972.

5- BOUGLEY in AGUESSE, p. - op. cit. (3).

6- CÉSARMAN, E। - Hombre y entropía - Editorial Pax - México S/A - Primera edición - México, D.F. - Febrero de 1974. p. 402 e 403.

7- Ibidem. p. 403.

8- Ibidem.

9- Ibidem.

10- Ibidem.

11- MC LUHAN - Os meios de comunicação como extensão do homem - São Paulo - Cultrix, 1964.

12- BERTALANFY, l. von - Teoria Geral dos Sistemas - Petrópolis - Ed। Vozes, l973.

13- Ibid. (1) p. 30.

14- Ibidem. p. 31.

15 -Ibidem. p.

I6 -Ibid (12).

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